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UM PUNHADO DE ROSA E NENHUM AZUL 

ou como distorcer dados estatísticos ou ainda, todo brasileiro gay merece ser heterossexual

O blogueiro de extrema direita e palpiteiro de internet Reinaldo Azevedo publicou um texto há alguns anos questionando os números da homofobia e o nosso método estatístico, argumentando que heterossexuais morrem mais do que homossexuais (‘’Um vermelho e um azul para dissecar uma notícia. Ou como ler uma farsa estatística. Ou ainda: todo brasileiro merece ser gay’’).

A proposição de Azevedo, desde aí, tem sido repetida à exaustão por reacionários ignorantes de toda espécie, na tentativa de desqualificar as demandas por direitos civis LGBTs (em especial, à demanda pela criminalização da homofobia).
Empregando a falácia da falsa analogia, porca e pobremente alinhavada junto à falácia da omissão, o blogueiro induz as pessoas leigas a erro grosseiro e consegue enumerar uma série longa de raciocínios bocós com precisão.

Vamos ao rosa e azul:

Reinaldo Azevedo diz que a cada ano morrem no Brasil 50 mil pessoas.
Não obstante reconhecer que cerca de dez por cento da população é homossexual, espantosamente conclui que desse total de 50 mil pessoas, uns 190 eram gays.
Parafraseando Azevedo; eu não sei qual é a quantidade de estatísticos homofóbicos. Seguramente deve ser superior a dez por cento; poderiam dar um auxílio aos colegas.
Com efeito, se morrem 50 mil pessoas por ano (mortes na população total), e dez por cento dessas pessoas são homossexuais, então morreram 5000 (cinco mil pessoas) homossexuais.
Pois bem.

Azevedo se pergunta, tendo em vista que heterossexuais morrem de fato mais do que homossexuais, se não seria caso de se acusar uma discriminação contra heterossexuais.
A falácia da falsa analogia consiste em estabelecer uma igualdade com base somente nas semelhanças, sem levar em consideração as diferenças; por exemplo:
Marte é um planeta. A terra é um planeta. Logo Marte é habitado.
No caso em questão, Azevedo afirma que é mais perigoso ser heterossexual porque heterossexuais morrem mais do que gays.

Porque heterossexuais morrem mais do que homossexuais? Porque eles são a maioria. Uma conclusão tão simples escapa completamente ao blogueiro da Veja.
Heterossexuais morrem nove vezes mais do que homossexuais porque a população heterossexual é nove vezes maior que a homossexual; o mesmo vale para os Alagoanos, Pernambucanos, Capixabas, etc, em comparação com gays, elencados por Reinaldo Azevedo.
Entretanto, não se trata aqui de saber quem morre mais; a verdadeira questão é:
Qual grupo é mais vulnerável?

Conforme vimos, se 50 mil pessoas são mortas todo ano no Brasil, vítimas de violência ordinária, desse total 5000 (cinco mil) homossexuais também são atingidos por essa mesma violência comum aos dois grupos.

Desses cinco mil homossexuais mortos somente pouco mais ou pouco menos de duas centenas são reportados por meios de comunicação (de onde extraímos as informações a respeito); eu disse ‘’reportado’’, não correspondendo à totalidade da violência. A realidade é, pois, muito mais grave do que se supõe. Isso posto, cabem as perguntas:
Quantos heterossexuais são vítimas da heterofobia?

Qual é a proporção de vítimas da discriminação entre os heterossexuais em relação aos homossexuais?

Quantos desses 45 mil heterossexuais mortos por ano no Brasil foram assassinados meramente porque eram heterossexuais?
Qual o risco de um heterossexual ser vítima de crime de ódio por motivo de orientação sexual?
Nenhum.

Não há um único caso reportado de alguém que foi morto porque nasceu heterossexual.
E quantos aos homossexuais mortos? Será que todas as mortes envolvendo gays e lésbicas ou travestis foi crime de ódio?

Nós já sabemos que tanto homossexuais quanto heterossexuais sofrem com a violência comum cotidiana; mas somente os gays padecem com o crime de homofobia (salvo nos casos onde heterossexuais foram confundidos com gays).

Reinaldo Azevedo com muita graça (ou nem tanto) comenta que o risco de um homossexual ou travesti envolvido com o crime morrer é maior simplesmente por conta das atividades de risco e não porque é homossexual ou travesti.

Aqui o palpiteiro de internet se socorre da falácia da omissão, deliberadamente ou por ignorância desconsiderando que travestis e homossexuais são vítimas históricas de discriminação social, individual, cultural e institucional e deste modo empurrados pela homotransfobia para zonas e atividades de risco com maior freqüência que heterossexuais (no mínimo, porque ninguém é discriminado no trabalho por ser heterossexual, ou expulso de casa por ser heterossexual).

Destarte, se a travesti está envolvido com tráfico de drogas ou prostituição na maioria das vezes é culpa da homotransfobia cultural, individual e institucional e não uma ‘’escolha livre’’ do indivíduo, conforme as palavras de Azevedo.

O mesmo vale para os casos onde o gay é morto por garotos de programa; o estigma social e a homofobia do entorno obriga a maioria dos homossexuais a se refugiar na clandestinidade perigosa das ruas escuras e becos noturnos, ao passo que a fragilidade inerente e estereótipos sociais de feminilidade atribuídos aos gays facilitam bastante a ação de tais criminosos.

E quanto aos homicídios de homossexuais perpetrados por parceiros domésticos, amantes e namorados? Não seria simples caso de crimes passionais?

A maioria dos reacionários e conservadores parece duvidar que homossexuais são capazes de sentir ódio de outros homossexuais; e mais ainda, crêem piamente que não existe crime de ódio quando um homossexual mata outro.

Noventa por cento da chamada ‘’violência de gênero’’ (violência contra a mulher) é praticada por parceiros, namorados, amantes ou maridos das vítimas; não ocorre a ninguém questionar se foi um crime de gênero quando o marido mata a esposa por ciúmes,nem mesmo questiona-se quando o agressor também é mulher(a lei Maria da Penha não faz distinção de orientação sexual no tocante à violência doméstica).

Trata-se, antes de tudo, de um crime provocado pelo machismo e uma violência contra a mulher, a despeito do caráter passional.

A homofobia internalizada igualmente agindo no psiquismo das pessoas LGBT induz também a crimes contra outros homossexuais; existe evidência científica de que inúmeros homofóbicos perigosos são homossexuais mal resolvidos internamente inclusive.

Um caso típico de ‘’crime passional’’ que surge nas estatísticas dos jornais:
Um homossexual assumido mantém um relacionamento amoroso clandestino com um homossexual ou bissexual enrustido (que oculta sua identidade gay dos outros); um dia o homossexual ou bissexual enrustido decide romper o relacionamento para se casar com uma mulher. O gay assumido, revoltado, ameaça contar a todo mundo a respeito do relacionamento e é assassinado com requintes de crueldade pelo gay enrustido.

Foi um crime homofóbico, motivado por homofobia internalizada, sem dúvida alguma.
De acordo com o relatório anual da Secretaria de Direitos Humanos, em 2011 houve ainda o registro de aumento no número de suspeitos (cerca de 32,8% de diferença); para cada homossexual agredido, mais de um criminoso atuando, na maioria das vezes, impunemente. Um verdadeiro exército de espancadores e assassinos à solta, pronto para atacar homossexuais e heterossexuais também (está provado que é perigoso demonstrar afeto do mesmo sexo em público, ainda que seja entre irmãos, ou entre pai e filho, ou mãe e filha,etc).

Bom, é isso.
Os homossexuais precisam de fato recorrer ao STF, à OEA, ou até à ONU para exigir o mesmo tratamento dispensado aos heterossexuais.
Urgentemente.

(texto de Walter Silva, modificado)

Walter silva

Walter silva

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Em 2017 foi o ano com o maior número de assassinatos da população LGBT desde o início da pesquisa, aproximadamente a cada 19 horas, um LGBT morre de forma violenta por motivação homotransfóbica no Brasil. Fruto também de um levante conservador que contamina a população com discursos impregnados de ódio, e que a todo custo quer nos aniquilar e calar nossa voz. Os números são contabilizados pelo nosso site.

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Homofobia no Brasil:

estatística de guerra

Os assassinatos são, em geral, marcados pela violência extrema. Além da arma de fogo, muitas vítimas foram mortas por armas brancas – faca, foice, machado – espancamento e enforcamento. Há ainda casos de degolamento, tortura e carbonização. Essas características indicam que se tratam não de ocorrências banais, mas de crimes de ódio contra a população LGBT.

O levantamento é feito com base em notícias que circulam na internet ou publicados em jornais. Não cobre, portanto, a totalidade dos casos, que certamente superam os números levantados.

Frequentemente os jornais ainda usam o masculino para se referir as mulheres trans (travestis e transexuais), as travestis, as transexuais, para as trans que vivenciam o papel de gênero feminino. Acrescentamos sempre o nome social feminino na manchete quando indicado na matéria. Seguimos igualmente a mesma tendência do BRASIL SEM HOMOFOBIA, DIA NACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA que incluem sob o genérico HOMOFOBIA, todas as manifestações de preconceito, discriminação e violência contra as minorias sexuais atualmente identificadas como LGBT. Tanto as principais lideranças LGBT do Brasil, quanto a mídia e o povo em geral entendem Homofobia como conceito abrangente, embora em casos específicos seja mais oportuno usar lesbofobia, transfobia.

O nosso relatório de 2013-2014 também mostrou como a intolerância a homossexuais mata. Mais especificamente, um gay é morto a cada 28 horas no país. Foram documentados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil em 2013. O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos: segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis no ano passado foram cometidos aqui.

o-MAPA-GAYS-570

Com base em pesquisas do Mapa da Violência, do Ipea e do nosso site, o Brasil Post fez um ranking dos estados mais perigosos para ser uma mulher, um negro ou um homossexual. Confira o resultado nas listas com os números absolutos discriminados abaixo:

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Epidemia crescente do ódio

Assassinato de 1,3 mil pessoas em seis anos revela que poder público do Brasil pouco faz para enfrentar o problema

O relógio é implacável. A cada intervalo de 28 horas um cidadão ou cidadã homossexual é assassinado no país. Tristemente, gays, lésbicas e travestis mortos se convertem em uma estatística que se conta aos milhares. Os números beiram ao absurdo de um conflito armado.

Somente de um ano, o número de assassinatos cresceu 14%, saltando dos 266 registros em 2011 para 308 esse ano de 2012, que ainda nem terminou. Uma estatística que supera, e muito, a média anual de mortes de palestinos ante a intervenção militar de Israel. O Centro de Informação Israelense para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados contabilizou 115 mortes de civis na Faixa de Gaza, no decorrer do ano passado, por exemplo.

Lamentavelmente, vivemos um apagão em termos de políticas públicas para a comunidade LGBT e o país se vê incapaz de erradicar a homofobia.

NORDESTE, CAMPEÃO DA HOMOFOBIA !

Revista Nordeste VinteUm – click na imagem.

Sem título

A homofobia sangra em solo nordestino. A região é oficialmente a mais homofóbica do Brasil.


8 comentários em “Relatos Anteriores

  1. […] O Grupo Gay da Bahia, famoso por sua luta pelos direitos gays, lançou um site para receber notícias de assassinatos de gays e lésbicas no Brasil. Seu nome é ‘Quem a Homofobia matou hoje‘. O site ainda mostra um levantamento de homossexuais mortos no primeiro semestre de 2012, e já somam 165 assassinatos. Veja o relatório AQUI. […]

  2. […] Somos vistas, no senso comum, como mulheres masculinizadas, promíscuas, indignas de confiança, pra dizer o mínimo. Também temos que lidar com aquela imagem da lésbica como fruto do fracasso masculino – aquela mulher que nenhum homem conseguiu satisfazer. A pressão da sociedade é pesada – e por vezes, violenta. Em alguns países existe a cultura do estupro corretivo. As estatísticas brasileiras mostram um preocupante incremento da violência letal nos último 5 anos, aumentando para 9 “lesbicídios” por ano &#82…. […]

  3. […] em Alagoas, com isto fazendo com que o calendário macabro do site Quem a Homofobia Matou Hoje, https://homofobiamata.wordpress.com/estatisticas/relatorios/ ,  totaliza 318 vítimas em todo o país. Infelizmente em Alagoas, dos 16 homocídios, só 2 […]

  4. SOCORRO…depois do q vi aqui to com medo,muito medo.e o pior q enquanto o governo nao olhar por ns cada vez mais lgbts vao morrer de forma cruel.depois dizem q nos gays que somos filhos do diabo,pois se os que dizem ser “FILHOS DE DEUS”,sao capazes de tamanha violncia gratuita eu PREFIRO ser filho do diabo pois quem com ferro ferri com ferro ser ferrido.

  5. nossa meu deus é mortes demais de gays ,quem é gay fica ate com medo de ser a proxima vitima,ja que homofobia no brasil nao é crime
    socorro,alguem tem a solucao para parar de morrer os lgbts no brasil?

  6. nordeste aplicando a solução final.

  7. 😢😧

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